‘Corpo Elétrico’, sobre jovem gay, foge de estereótipos e explora sensualidade

filmesgays novembro 15, 2017 Visualizações 8955

No poema “Eu Canto o Corpo Elétrico”, o americano Walt Whitman exalta os quadris, maxilares, costas, olhos e barbas de barqueiros, nadadores, fazendeiros e de escravos bronzeados pelo sol.

O diretor mineiro Marcelo Caetano também se abre para a potência de torsos, nucas, peitos e joelhos –no caso dele, para o da gente que labuta em uma confecção do Bom Retiro no drama “Corpo Elétrico”. O filme, que circulou por festivais como o de Roterdã e de Guadalajara, estreia nesta quinta (17) no circuito.

“Em São Paulo, o trabalho reverbera fora dele, nas horas vagas. A ideia do corpo elétrico é como se libertar disso, como se reencontrar com o próprio corpo”, diz o diretor de 34 anos, estreante em longas.

O universo do trabalho é um dos fios da obra, centrada em Elias (Kelner Macêdo), estilista paraibano que orbita entre o mundo dos seus patrões na confecção e o dos operários do chão da fábrica.

Elias também deita seu corpo na cama de vários homens, alguns encontrados a esmo, em relações fugidias ou não, mas que nunca beiram a idealização de um filme convencional sobre gays.

O cineasta mineiro Marcelo Caetano, diretor de “Corpo Elétrico”, em São Paulo

“O amor romântico é opressivo, não só pela hegemonia cultural que exerce em filmes, livros e músicas, como por impedir a fluidez do desejo”, diz Caetano, que descreve o protagonista como uma espécie de Sherazade: aproxima-se das pessoas pelas histórias que conta ao pé do ouvido, entre as transas.

“A cama é o lugar do desejo, mas também do sonho. O sexo não é mais importante do que a conversinha ou o cigarro que vem depois”, diz.

SEXO SEM TABU

Tirar o sexo de seu pedestal foi algo que o diretor quis levar à narrativa a partir de sua experiência nos sets dos longas de outros diretores.

“Existe tabu na hora de gravar, com os atores preocupados, como se houvesse uma hierarquia”, conta Caetano, que afirma ter dessacralizado esse tipo de cena desde sua passagem como assistente de direção em “Tatugem” (2013), de Hilton Lacerda –longa com alta voltagem sexual.

Formado em ciências sociais, Caetano migrou para o audiovisual em 2005, trabalhando na produtora do conterrâneo Kiko Goifman ( “FilmeFobia”). Foram curtas como “Bailão” (2009), que correram festivais, que o fizeram estreitar parcerias com os pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Gabriel Mascaro e com a paulistana Anna Muylaert.

Para Kleber, fez a produção de elenco de “Aquarius” (2016) e sugeriu o nome de Sonia Braga para a protagonista. Durante os testes com os atores, Caetano topou com o paraibano Kelner, 22, que não levou o papel do sobrinho da personagem de Sonia, mas desembarcou como o protagonista de “Corpo Elétrico”.

O ator lembra das primeiras provas a que foi submetido em São Paulo assim que ganhou o papel. “Marcelo me pedia para andar pela cidade com um mapa e gravar minhas impressões”, diz Kelner.

Suas andanças ecoam a de seu personagem, que zanza entre o mundo cinza dos operários da confecção e o universo de glitter da travesti Marcia Pantera e da funkeira transexual Linn da Quebrada, que também atuam no filme.

No ambiente fabril, a homossexualidade de Elias não choca os colegas. “Acredito numa solidariedade outsider entre eles”, diz Caetano, para quem o cinema brasileiro acostumou o público a ver a classe operária como categoria estanque ou que o “pobre é conservador”. Não foi o que o diretor viu nos seis meses em que fez pesquisa de campo nas confecções paulistas.

As faíscas de confronto na trama, quando surgem, têm tintas de conflito de classes. “Ela é pano de fundo, mas não há hierarquia entre ela ou o desejo e o corpo como temas.”

O estudo estritamente social, recorrente na produção brasileira, é outra das categorias que “Corpo Elétrico” derruba, tal como as convenções do que seria um cinema gay.

O filme, diz o diretor, parte de Whitman, o poeta, e não de Bourdieu, o sociólogo. “Não quero cumprir agendas, mas os corpos são políticos em si. Querem dançar a cidade.”

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